BIOLOGIA

Este é o blog dos alunos de Biologia da Universidade de Évora

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Uma aula...

Isto porque começámos um novo semestre, com novas disciplinas, que nos exigem determinadas coisas, peço-vos que percam 5 minutos do vosso tempo, e leiam esta história.



Imaginem um pequeno cão. Preso numa gaiola, numa sala escura. Ao seu lado, acima, e abaixo, outras gaiolas, com outros animais. No silêncio, ele fica acordado. Já se cansou de latir, uivar e agora apenas espera - pelo que não sabe nem pode prever. Foi trazido de algum lugar, depois de ter sido apanhado.

Um cão que vivia solto pelas ruas. Sem dono, sem nome, sem referência, esteve próximo do sacrifício, mas enfim alguém o adquiriu. Foi uma faculdade - uma das muitas faculdades de medicina que ainda usam animais para testes científicos.
O tempo passa. Na sua mente, apenas existe escuridão. Por vezes escuta, um ruído próximo: outro animal move-se, ou suspira. Com fome e arrepiado (é frio, o depósito), o cão mantém-se quieto, enroscado em si mesmo. Os olhos varrem o escuro, mas sabe que adiante dele estão as grades.

Então ouve-se um som. Luz surge ao rés do chão. E uma porta abre-se. Um homem vestido com um uniforme azul entra na sala, enquanto animais acordam e começam a latir. O cão na gaiola levanta-se e, não sendo violento, apenas abre os olhos para acompanhar o movimento. Vê as grades a abrirem-se, é seguro por mãos firmes e comprimido junto ao peito.

De repente, está no meio da luz. O contacto com o homem aquece-o, as suas mãos têm delicadeza. O homem tranca o depósito, os latidos dos animais ficam distantes. Estão agora num corredor, de paredes brancas e janelas gradeadas. Entram noutra porta e, no momento seguinte, o cão vê-se entre dezenas de pessoas. São rapazes e raparigas, vestidos com batas brancas - alguns parecem tensos. Farejando o ar, o cão percebe medo e o coração começa a bater mais forte. Há um clima tenso na sala e todos o seguem com o olhar. No silêncio da sala, um homem maduro, também de bata, toma-o das mãos do primeiro homem e diz alguma coisa.

O-B-R-I-G-A-D-O (o tom soa tranquilo).

Sozinho, o cão busca em seu redor. Numa janela, o começo da manhã: um pátio, pessoas, carros. O coração bate, ouve o professor falar com os estudantes. Alvo de olhares, sente a tensão crescer, mas nem todos estão tensos. O silêncio continua grande, entre cada palavra do homem de branco. Não há tanta delicadeza, agora - as mãos apertam os seus rins. É agarrado com pouca atenção. Chega o momento em que o homem pára de falar e dois rapazes cercam o cão. Pares de mãos colocam-no sobre a mesa - de costas, sobre o alumínio frio. Os jovens mantêm-no nessa posição, enquanto o professor agarra cada uma das suas patas e estende, amarrando-o.

O cão vê tudo de cabeça para baixo. No crânio, a pressão da mesa, o frio nas orelhas e no dorso. Tenta mover-se, mas as pernas estão esticadas para fora. Quanto mais luta, mais forte é a pressão nos pulsos. Ao sentir o ar, percebe a tensão, agora dominante - o coração bate muito rápido. Agora, o homem de branco diante de seus olhos prende-lhe o focinho. Sem ver a janela, o cão escuta o homem dizer, palavras que não entende, avisos que não entende e instruções que não entende. Se pudesse entender, saberia que tratam da importância do conhecimento científico e da necessidade de observação imparcial diante do que será feito.

O cão ouve um som metálico - uma caixa é colocada, ao seu lado. Uma rapariga, de vinte e poucos anos, tira um objecto brilhante e entrega-o ao homem. O coração bate sob a pele, os pulmões respiram com rapidez e tem uma ânsia de latir. A dor nos pulsos fica angustiante. Já não vê a janela, mas ouve ruídos, sons vindos de longe. O cão procura alguém, olha em redor de si, mas vê somente frascos escuros e cartazes com desenhos (fisiologia humana).
Nesse momento, o grupo aproxima-se: dezenas de estudantes em seu redor. Então, sente uma dor aguda - começam a cortar-lhe a barriga.

O coração dispara, tenta soltar-se, mas a dor fica insuportável. Debate as pernas, mas tão presas estão que quase não pode movê-las. Os pulsos estalam, o pescoço incha, os olhos ficam vermelhos e um gemido escapa pelo focinho. Queria latir - desabafar a dor! O corpo quente diante dos seus olhos debruça-se, a barriga arde e queima enquanto o bisturi avança. O cão grita, mas o som perde-se na garganta. Não houve um som, apenas as batidas surdas do coração.
Ninguém fala, existe apenas uma tensão contida. Movendo a cabeça, vê batas amarelas (a sua visão está destorcida), com rostos atentos em si. Os olhos não piscam, mas evitam os seus.
Sobre a mesa, o cão treme. Já não luta, não se move - mas ainda está vivo. Um calor brota de si, escorre pelo corpo, empapa seu dorso – o sangue escorre. A mente nublada, os olhos escuros, sente o bisturi parar. Mãos abrem a sua barriga. O corpo estremece, enquanto as vísceras são manuseadas. O coração bate fraco, os olhos fecham-se, a respiração diminui.

Uma voz fala no silêncio sem gemidos.

Depois, fecham-no. E acaba a lição.


Do livro Sociedade, ecologia e direitos dos animais.
Adaptado por Sara Garcia e Ana Leitão.

1 Comments:

  • At 1:28 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    é horrivel as coisas k fazem em nome da aprendizagem... passam por cima de todos os sentimentos...será axim k se aprende a salvar, conhecer? isto é um bocadinho macabro... há k defender os direitos dos animais! porque eles são mm nossos amigos =) Beijinhos pó pessoal todo!! Joana Coelho

     

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